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Mercado das agetechs: o futuro amadureceu




Primeiro foram as health, edu e socialtechs. Depois vieram as femtechs. Em Israel, até já se fala em LGBTechs. O esforço das startups para solucionar problemas práticos da vida e trazer mais diversidade à tecnologia chega agora à era das agetechs.   

O aumento acelerado e sem precedentes da longevidade em todo o mundo está atraindo o interesse de empreendedores em melhorar a qualidade de vida de usuários em todos os aspectos da nossa jornada de envelhecimento. Só nos Estados Unidos, as agetechs receberam investimento de 500 milhões de dólares em 2022. 

De acordo com o The Gerontechnologist, instituto responsável pelo levantamento, esse mercado deve saltar de 1 para 2 trilhões de dólares nos próximos 12 meses, abrangendo temáticas como saúde, moradia, bem-estar, segurança financeira e engajamento social de adultos longevos.

Gigantes de tecnologia já aproximam o tema de suas prioridades. A Amazon, por exemplo, desafiou sua equipe a tornar a assistente virtual Alexa o mais amigável possível para usuários de outras gerações. Enquanto isso, o YouTube Health tem firmado parcerias com centros de referência em saúde mirando excelência na produção de conteúdo. 

Em apresentação realizada por Keren Etkin, autora do livro The AgeTech Revolution (New Degree Press, 2021 – disponível apenas em inglês) e CEO do The Gerontechnologist, o terreno é fértil. Até 2050 pessoas acima de 60 anos vão corresponder a 20% da população mundial: são 2 bilhões de potenciais clientes e usuários.


Reforma republicana 


Dividir apartamento é o novo hit entre pessoas entre 55 e 64 anos na Inglaterra. Os dados são do SpareRoom, maior site de aluguéis compartilhados do Reino Unido. Entre 2011 a 2022, o público nessa faixa etária interessado na moradia compartilhada aumentou 239%. 

Segundo Matt Hutchinson, porta-voz da empresa, o aumento da procura se deve a dois aspectos básicos: o financeiro, uma vez que as despesas tendem a aumentar na maturidade; e o emocional, de dividir um espaço entre amigos para afastar a solidão

Também chamada de coliving, cohousing e outros nomes embrulhados para presente, as repúblicas – em bom português – preservam princípios básicos da moradia compartilhada: divisão de despesas e de tarefas, espaços privados e de uso comum, e regras estabelecidas em comum acordo entre todos os integrantes.

O que esperar de uma república sênior? Sexo, drogas e rock’n roll, com certeza. Na decoração, se tudo der certo, um sofá melhorzinho que o da época da faculdade.

#Dizem

Foto: Reprodução

“Não seremos velhinhas sentadas em um lar de idosos com cabelos grisalhos. Ou, se formos para um lar de idosos, estaremos lá com nossa maconha, nossos alimentos saudáveis e nosso grande senso de estilo.”

Jenny Kee, Artista & Designer, para The Independent
(via Spark:off)


Empresas no Brasil são etaristas


Antes de mais nada, o que é etarismo? Trata-se daquele preconceito explícito ou estrutural (inconsciente) em relação à idade. Estudo da Maturi com a EY comprovou a tese: 78% dos respondentes afirmam ter a percepção de que, sim, existe preconceito contra a idade em suas companhias. 

Além disso, 80% declararam desconhecer políticas específicas de combate à discriminação etária nos processos seletivos das organizações em que atuam.

Outro destaque do levantamento é que o tema deve crescer nos próximos 3 anos: 57% das organizações pretendem realizar ações voltadas ao envelhecimento até 2025.

Os pontos de partida para isso serão o investimento na atração de profissionais maduros e a preparação da cultura organizacional como um todo. 

“A população 50+ é a que mais cresce no Brasil. Isso exige que governos e empresas adotem uma perspectiva mais inclusiva e estratégica. Nas organizações, quem abrir oportunidades de atração e retenção continuará a contar com uma mão de obra produtiva, engajada e capaz de contribuir para a inovação nos negócios”, afirma Mórris Litvak, CEO da Maturi, em reportagem da revista Exame.

O estudo completo está disponível para download e traz cases sobre o tema.

Te cuida, Face

Passei meu último domingo em família tentando – com pouco êxito – explicar a diferença entre stories e reels para um pessoal. Uma tia querida está ativíssima no Instagram: ninguém segura. Revelada em meio ao estrogonofe com batata palha, essa manifestação de tendência confirma o que divulgou a Kantar Ibope Media. Entre 2015 e 2022 o Instagram registrou aumento de quase 5.000% no número de usuários entre 65 e 75 anos. Eu achei sensacional.

Usando um termo old school, fica aí o dever de casa para todo mundo, sobretudo para marcas: rever direcionamentos. Daqui pra frente, campanhas publicitárias, ações de marketing digital, produções de conteúdo, gestão de comunidades poderão considerar esse elemento novo. Lembrando que faixa etária é só um número, um corte que serve para políticas públicas e outras necessidades de organização social. Tipo, quem tem direito a parar na vaga de idoso, quem não tem. Fora isso, a maturidade é um mundão. Desconfie de quem cravar que um público “50+” ou “60+” se comporta dessa ou daquela maneira. Isso acabou — sem nunca ter existido. Que a pluralidade da vida madura pipoque em todos os feeds.

Divórcio pós-50 e 32 dates selvagens

Foto: Patricia Canola/ Reprodução CKamura

A administradora Isabel Dias (@isabelrdias) estava na faixa dos 50 quando descobriu as muitas traições do marido ao longo do casamento de 32 anos.

Recuperada do golpe, pediu o divórcio e, secretamente, colocou em prática um projeto pessoal: sair com 32 homens diferentes – número correspondente ao número de anos que ficou casada – e recuperar sua autoestima como mulher.

A sinceridade de Isabel e a riqueza de detalhes fazem valer a leitura de 32: Um Homem Para Cada Ano Que Passei Com Você (Da Boa Prosa, 2015). É também uma oportunidade de reflexão sobre dois temas que caminham juntos: machismo e etarismo.

Comentei do livro com colegas homens e recebi olhares críticos. Cair na pista aos 50 e poucos incomoda? Não deveria.



Pele e articulações em uma cajadada só

Reprodução

Questiono o conceito do “anti-ageing”. Para mim, envelhecer – e falar abertamente sobre isso – é um ato político. Mas respeito quem deseja manter a pele esticada a todo custo (sem entrar no mérito de porque as pessoas correm atrás disso, etc, etc). Por ora, sua pele, suas regras. Dito isso, novidade a quem interessar possa.

Fabricado pela norte-americana Eleven, o Insideout é um suplemento que, com uma cápsula diária, ataca duas queixas comuns que surgem na maturidade: ressecamento da pele e dores nas articulações.

Os componentes principais são nicotinamida mononucleotídeo (NMN) e ácido hialurônico. Um pack com 120 cápsulas custa 79 dólares, fora a sem as despesas de envio. Alguém aí sabe se faz sentido um tratamento preventivo para as juntas, começando agora aos 40? Ou minha ansiedade está fora de controle?

“Vou me formar em jornalismo aos 63 anos”

Foto: Acervo Pessoal


Em meio a croppeds e bonés, a paranaense Nilcéia Parize (@nilceiaparize), 62 anos, é a aluna mais velha da turma de Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo-SP.

Mãe, esposa e avó de 5 crianças, tem uma carreira estabelecida como locutora profissional. Certeza que você já ouviu a voz dela, nos audioguias dos principais museus e espaços culturais de São Paulo. Durante anos, Nilcéia emprestou sua voz à versão em áudio da revista Veja, só para dar um exemplo. Em nosso encontro, aliás, ela me deu uma aaaaaaula sobre dicção para os próximos podcasts do Maturidades.

Pronta para começar o último ano rumo à graduação de jornalismo, ela conta que vive dores e delícias com seus colegas de 18 a 22 anos da faculdade.

“Escrever textos muito curtos ou montar apresentações é difícil. Por outro lado, na hora do trabalho em grupo eu sou a pessoa que conhece muita gente, que tem fontes interessantes e lembra de histórias que eles não conhecem”, diz.

Quando estava em busca de uma vaga de estágio – 360 horas obrigatórias – ela obteve poucos retornos dos processos seletivos. “Quando me respondiam, diziam que a questão era o inglês ou pouca experiência com redes sociais. Óbvio que o motivo principal era a minha idade“, conta. 

A oportunidade de estágio apareceu em um lugar inesperado: a mesma rádio onde Nilcea atuou por anos como locutora. Só que, dessa vez, longe dos microfones e mergulhada na redação dos textos, como repórter pra valer.

Agora, na reta final do curso, ela se dedica às últimas disciplinas. “Quero realizar um trabalho de conclusão de curso digno da minha turma. Digno dessa universidade, que me acolheu sem nenhuma discriminação“, diz.



Mariana Mello é jornalista e idealizadora do Maturidades, iniciativa independente de conteúdo voltada à cultura de longevidade. Tem 42 anos e fala sobre envelhecimento sem noias. Está com o ácido hialurônico e o filtro solar em dia. Já o colágeno, nem tanto. Email: mariana@maturidades.com.br. Acesse maturidades.com.br