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Precisamos falar sobre esconder a idade

Foto: Daryan Dornelles para revista TPM/ Reprodução

Fui surpreendida, assim como boa parte dos brasileiros, com a notícia da morte da jornalista Glória Maria. Há tempos eu acompanhava os conteúdos sobre ela. Queria entender se havia algum motivo especial – superstição, talvez? – para a jornalista se recusar a dizer sua idade verdadeira

Glória desconversava sobre o ano em que teria nascido. Também não gostava de falar sobre maturidade. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, ela partiu aos 73 anos, consequência de um câncer descoberto em 2019.

Habituada ao métier da televisão, que é implacável no julgamento da imagem feminina, a jornalista certamente sabia o que estava fazendo. Se envelhecer é um tabu para qualquer mulher comum, imagina para quem está à frente das câmeras.

Dia desses recebi o link de um documentário do Meteoro.doc a respeito do diferente tratamento dedicado aos homens e mulheres profissionais do audiovisual. Apresentadores barrigudos, calvos ou grisalhos seguem prestigiados. No caso das mulheres, não podem parecer mais velhas.  

Eu não descartaria a hipótese de que Glória Maria, com seu olhar perspicaz, soube se blindar do etarismo. E que isso contou, sim, positivamente em sua carreira.

Em um país com pessoas cada vez ganhando mais tempo de vida, eu adoraria que esconder a idade virasse um costume arcaico. Algo que não se usa mais, que soa ultrapassado. Que Glória seja lembrada também por essa importante reflexão: essencial para a construção de uma cultura de maturidade.



Start-up conecta experts maduros ao público

Foto: Freepik

Adoro gente mais velha do que eu. O pediatra do meu filho, por exemplo, foi o meu pediatra quando eu era criança. Hoje ele tem uns 70 e muitos anos, não manda criança fazer exame de sangue à toa e cantou a bola da vacina da febre amarela dois anos antes. Minhas angústias levo para ele. E saio leve.

Descobri a start-up brasileira Yolex, que colocou em prática essa ideia: conectar adultos muito experientes ao público. Imagina poder trocar ideia, via Zoom, com alguém que trabalhou a vida inteira na área de finanças. Ou uma psicanalista aposentada que clinicou por 50 anos. O que esses caras já não viram nessa vida? É uma plataforma de valorização da troca geracional, tão necessária e benéfica à sociedade. Aliás, meu pediatra deveria estar no Yolex. Vou indicar.

“Young Old é a denominação utilizada no exterior para descrever pessoas experientes. Por outro lado, ‘Expert’ representa perfeitamente o que todos viramos com o passar do tempo, esforço e dedicação”, diz Thiago Duffles, CEO da Yolex.

Estou no período de teste (30 dias gratuitos) e me inscrevi em um no encontro O cérebro masculino e feminino nas relações sociais. A líder da conversa é uma pedagoga que está entre os 60 e 70 anos de idade.

Quero perguntar a ela se, ao longo da história, foi notada alguma evolução no DNA masculino a respeito da interpretação equivocada de que uma mulher que apenas é simpática está dando mole. Isso acontece com vocês? Comigo, direto.


Suplementação cerebral is the new black

Foto: Freepik

Não bastasse o colágeno hidrolisado, a maca peruana, o complexo vitamínico disfarçado de bala de goma e o antidepressivo de cada dia, estamos a um passo de ganhar uma nova capsulinha para engolir: a suplementação cerebral. Cuidar da cognição é o novo pilates. 

Em entrevista à Longevity.Technology, plataforma de conteúdo britânica sobre longevidade, a neurocientista Caroline Leaf, PhD pela Universidade de Pretória, na África do Sul, diz que a mente afeta diretamente a saúde cognitiva, a função e o desempenho do cérebro

“A mente dirige o cérebro, mas também usa o cérebro. Se o cérebro não está saudável, isso pode afetar como funcionamos mentalmente, nosso processamento cognitivo e a formação da memória”, diz a estudiosa.

Ela também é autora de diversos livros sobre o assunto e idealizadora do Neurocycle, um aplicativo para “detox cerebral”. Diz a propaganda que o app ajuda a lidar com estresse, ansiedade, depressão e pensamentos tóxicos – me dá um minutinho que tô indo lá baixar, urgente.

Praticar atividade física e ter uma boa alimentação seria suficiente para garantir uma mente saudável. Porém, para sedentários e junkies sem perspectiva de reversão há o suplemento cerebral, composto de citicolina, resveratrol e kanna

O repórter Pedro Braga, que tem 26 anos e nenhuma queixa cognitiva além de insistir em ser são-paulino, explica direitinho essa história no Maturidades.



Profissionais 50+ têm auto-estima mais elevada quando comparados aos colegas de 20 e poucos anos

Perguntaram a dois grupos de profissionais, ambos contratados sob o regime CLT, como se sentiam em relação ao momento profissional. As opções de resposta eram 1. Estou em ótima fase da vida, 2. Sinto que estou bem, 3. Não me sinto seguro e 4. Preciso de ajuda. 

No grupo com de pessoas entre 50 e 64 anos, mais da metade – 64% – escolheu a opção 2. Em relação a se sentirem seguros, os mais maduros puseram moçada no chinelo. Enquanto entre os 50+ apenas 1% declarou não se sentir seguro, esse número sobe para 22% no caso dos mais jovens.

A pesquisa foi realizada pela FEEx – FIA Employee Experience, e entrevistou 188 mil pessoas de 300 empresas, todos com carteira assinada. Os resultados constataram ainda que os funcionários 50+ são mais estáveis e mais fiéis à empresa.

“Além disso, [os 50+] estão mais satisfeitos com a experiência de trabalho do que os outros funcionários”, disse Lina Nakata, professora da FIA e responsável pelo mapeamento, à Época Negócios. 




#Dizem

“Vamos precisar de muita gente trabalhando.
Não só de profissionais de saúde, mas planejadores urbanos, designers, arquitetos, políticos, advogados.
O mundo muda quando começa a envelhecer.”

Alexandre Kalache é médico, gerontólogo, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil e co-diretor da Age Friendly Foundation.

Pererecas, caso envelheçam…

Foto: Freepik

Alerta de negócio novo na praça: rejuvenescimento vaginal. Trata-se de um tratamento voltado à vulva e à vagina, com o objetivo de combater aspectos como flacidez e atrofia decorrente de menopausa

São três frentes de atuação: sessões de fisioterapia pélvica, ingestão de bioestimuladores e aplicação de um laser íntimo – tipo aquele negócio fino e comprido do ultrassom transvaginal, só que dando uns choquinhos. Dizem que é indolor, eu duvido. 

O que chamou minha atenção foram os, abre aspas, “benefícios adicionais”, fecha aspas, do procedimento. Um deles seria a melhora na aparência da marianinha, que ficaria com menos manchas escurecidas. Será que perereca tem ruga?

Outra vantagem prometida é a redução das mini-incontinências urinárias que, no meu caso, aos 42, já são uma realidade. Outro dia passei uma vergonha no pula-pula, com meu filho de 8 anos, que só por Deus. Daí vi que lançaram absorvente especial para escapes de xixi. Senti que foi pra mim.

Nomes de peso já declararam publicamente a experiência com o rejuvenescimento vaginal: Núbia Óliiver, ex-Garota do Fantásico, ex-Casa dos Artistas, ex-modelo, ex-Núbia de Oliveira e atual fazendeira em Minas Gerais (não confundir com A Fazenda). Gretchen também já fez.

Sem contar a empresária do vestido curto na faculdade, Geisy Arruda — ela mesma, que em 2012 fez uma cirurgia plástica na própria vulva, para que a dita-cuja deixasse de “parecer uma couve-flor“. 

Melhor a gente encerrar esta edição por aqui.

Reportagem: Pedro Braga
Tecnologia: Ivan Carlos
Banco de imagens: Freepik



Mariana Mello é jornalista e idealizadora do Maturidades, iniciativa independente de conteúdo voltada à cultura de longevidade. Tem 42 anos e fala sobre envelhecimento sem noias. Está com o ácido hialurônico e o filtro solar em dia. Já o colágeno, nem tanto.

mariana@maturidades.com.br


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